As águas no Norte, próximo a Darwin: há ou não há crocodilos, eis a questão
Os nossos últimos dias na Austrália levaram-nos aos Parques Nacionais de Litchfield e Kakadu, bem ao Norte dos Northern Territories. Ambos os parques nacionais são conhecidos pela sua abundância de animais e, em particular, o grande número de crocodilos. Mas apenas os crocodilos de água salgada são realmente perigosos. Os crocodilos de água doce não são considerados demasiadamente perigosos e deparar-se com eles em águas claras geralmente não constitui problema. Nos encontros entre pessoas e 'salties', como os crocodilos de água salgada são chamados aqui, os seres humanos acabam sempre por perder e ano após ano acontecem acidentes mortais. Uma vez na água e cara-a-cara com um desses répteis recobertos por placas córneas, é realmente preciso ter sangue frio e manter a calma para poder distinguir os salties perigosos dos seus 'colegas' de água doce mais pacíficos. Estes últimos têm um tamanho menor – mas como ter certeza de que não se trata de um saltie que ainda não atingiu a idade adulta? Dizem que ajuda dar uma olhada nos dentes – ha ha!
Mas também na região norte da Austrália há águas doces claras onde há muito tempo não foram avistados crocodilos de água salgada. Em quase todos os sítios onde há água existem placas de advertência, mas parece que estas foram instaladas por motivos meramente preventivos. Em casos de perigo realmente sério, existem outras placas em inglês, alemão e chinês que mencionam avistamentos actuais de salties. E aí impõe-se especial prudência. Nas águas claras conseguimos, mais uma vez, observar peixes arco-íris, barramundis, cabozes, arqueiros, uma espécie de perca (Amniataba percoides) e uma espécie que só existe na Austrália: Glossamia aprion (um género da família dos apogonídeos), peixes que incubam os ovos na boca e que aqui vivem em água puramente doce, mas que nós conhecemos normalmente como peixes de água marinha. Os Glossamia ocupam o nicho ecológico dos predadores que flutuam na água à espera de sua presa, semelhante ao peixe-folha que vive na América do Sul. Para apanhar sua presa, estes peixes bem camuflados aguardam imóveis entre os galhos na água. Também a presença da variante do peixe arqueiro de água doce (Toxotes chatareus) mostra que muitas águas doces na Austrália devem ter desembocado no mar há muito tempo atrás, pois peixes arqueiros são normalmente encontrados em águas salobras. Na Austrália vive também um língua-de-osso (também conhecido como aruanã) e nós tivemos a sorte de poder observar estes animais (que chegam a 80 cm de tamanho) juntamente com umas bicudas de água doce nas proximidades de Maguk. Foi interessante ver seu comportamento de fuga: embora a aruanã seja um peixe predador especializado em pegar a comida da superfície, ela, ao deparar-se com um snorkler, foge até uma profundidade de 8 m, mas sem jamais ultrapassar esta marca. A busca no Google por bicudas de água doce não é fácil, pois a espécie que observámos tinha um tamanho de mais de 30 cm e na Internet só se lê sobre espécies de água doce com um tamanho de no máximo 8 cm. Embora a Austrália não abrigue uma grande diversidade de espécies de água doce, as poucas espécies encontradas são realmente interessantes e invulgares.